Design feito com o ouro do Jalapão
Exclusividade da região Norte do país, o Capim Dourado é uma riqueza natural que se espalha em campos úmidos no Cerrado do Jalapão.
São inúmeras as riquezas naturais encontradas no Brasil, mas o Capim Dourado está entre os mais exclusivos. Uma espécie típica do Cerrado e de beleza ímpar, é uma das matérias-primas cujo artesanato e confecção de objetos de decoração sustentam famílias inteiras naquela região, mas seu brilho vai além e reluz em todo o país e até no exterior. À frente de criações icônicas, a designer Ane Neute produz peças únicas e nos conta um pouco sobre como é trabalhar com essa beleza natural.
Muitas vezes visto como um país ‘exótico’, o Brasil possui maravilhas invejáveis mundo afora. Com tantas diferenças culturais encontradas em um único país que tem dimensões continentais, afinal, são 8.514.876 quilômetros quadrados de área total, é impossível não ser impactado. Sim, o Brasil é naturalmente especial e, quando a pauta é cultura, então, o assunto vai longe. As diversas regiões do país e suas diferenças gastronômicas, musicais, entre tantas outras, marcadas pelos mais diversos sotaques, dão o tom do que é esse gigante. E é a garra e o talento de seu povo – igualmente famoso – que mantêm de pé toda essa história e energia ímpares.
Assim, o Capim Dourado brilha nesse enorme cenário de diferenças culturais, de clima, de demografia e de natureza. Uma espécie da família Eriocaulaceae – um tipo de planta florífera –, o syngonanthus nitens (nome científico do Capim Dourado), segue encantando pessoas, culturas e regiões do Brasil e do mundo. Sua maleabilidade possibilita que sejam criados os mais diversos tipos de objetos que vão desde acessórios de moda como brincos, anéis, colares e pulseiras a ornamentos dos mais diversos, entre os quais, cestarias, souplats, itens decorativos e até luminárias. A designer Ana Neute, que tem atualmente 25 linhas em plena produção, nas quais usa a matéria-prima como base, comenta o benefício em trabalhar com esse produto: “a vantagem é que como é um material trançado à mão pelas artesãs do Jalapão, ele se torna de alguma forma único, pois depende muito das mãos de quem o produziu.”
Peças da coleção Bruta® assinadas pela Designer Ana Neute, produzidas com Capim Dourado.
Vem dos índios Xerente a arte de transformar as hastes em artesanato, e a técnica vai ao encontro do ‘fazer brasileiro’ e seus processos artesanais, pois mesmo quando há a industrialização na confecção do produto, caso das peças assinadas por Ana, o artesanal se faz presente. Mas, ela ressalta que não há simplicidade em combinar esses dois processos. “Unir o industrial com o artesanal é o grande desafio. As peças têm um frame de metal que as envolve e até acertar os dois materiais juntos levou um tempo.” Contudo, explica que por ser um material naturalmente muito durável, não é necessário nenhum tratamento especial antes que o Capim Dourado se transforme em um objeto. “O que fizemos foi inserir o Capim Dourado à uma estrutura industrial que ajudasse a valorizar e manter a peça.”
Mapa da mina
O ouro do Jalapão, como também é chamado o Capim Dourado – e com muita razão –, pode ser encontrado em maior abundância no extremo leste do estado do Tocantins, distante aproximadamente cerca de 350 km de Palmas, a capital. O Jalapão é uma área ampla, com cerca de 34 mil quilômetros quadrados e com características de clima e solo peculiares. Ensolarado e aberto com solo arenoso e úmido, favorece seu crescimento espontâneo, mas o Capim Dourado também pode ser encontrado em outras regiões do Brasil como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal e Bahia.
Para manter sua preservação, na região do Jalapão, por exemplo, o Instituto Natureza do Tocantins definiu regras para a colheita, sendo elas: as hastes apenas podem ser colhidas após 20 de setembro (e vai até 20 de novembro), ou seja, somente após a maturação das sementes; os frutos devem ser cortados e dispersos no solo logo após a colheita; as hastes de capim dourado não podem sair da região in natura, apenas em forma de artesanato. (Portaria 092/2005, reeditada como Portaria362/2007).
Ana Neute é formada em arquitetura pela Escola da Cidade em São Paulo. Em 2012 abre seu estúdio de design desenvolvendo peças autorais, instalações, projetos em parceria com marcas.
Dialoga com diferentes materiais e técnicas, desde o artesanal até o industrial. Com uma extensa linha de luminárias expande o seu trabalho para a produção de mobiliário, explorando formatos e usos.
Internacionalmente premiada, Ana explora um repertório vivo, moderno, diverso e por tudo isso, brasileiríssimo.
Essa é uma publicação do Connectarch, o programa de relacionamento da Decortiles.