Mural de Jackson Pollock
“Temos a arte para não morrer da verdade.” Com essa frase do filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900) o Connectarch traz ao seu leitor um pouco sobre a curiosa – e deliciosa – história da obra-prima “Mural” de Jackson Pollock.
Com as considerações da art advisor Georgia Lobacheff, entraremos, ainda que de forma sucinta, neste conto que bem poderia figurar em um filme como “Contos de Nova York”, dirigido pela ilustre tríade composta por Martin Scorsese, Francis Ford Coppola e Woody Allen.
O começo de tudo
O ano era 1943 e Jackson Pollock vivia dias difíceis com sua esposa, a pintora Lee Krasner, em um pequeno apartamento em Nova York. Naquele verão, o casal vivia um aperto financeiro, após Pollock ter tido sua saúde bastante debilitada nos idos de 1937, quando iniciou um tratamento psiquiátrico para alcoolismo e um colapso nervoso que o levou a uma internação por cerca de quatro meses. Pollock teve a chance de um novo começo com um pedido peculiar. A então colecionadora Peggy Guggenheim, solicitou, ao ainda desconhecido artista, que criasse uma obra para o lobby de seu apartamento em Manhattan. Sua única exigência era que a arte cobrisse toda uma parede, mas ele tinha total liberdade para criar. Com um contrato de salário de $150,00 por mês – algo até então incomum – Pollock aceitou imediatamente o convite e, por orientação do amigo e conselheiro, e também artista, Marcel Duchamp à própria Peggy, a obra deveria ser criada em uma tela e não na parede como a amiga propusera, para que assim ela pudesse ser retirada e alocada em outros lugares, caso houvesse interesse. “Uma vez que existisse o afresco (obra na parede), ali permaneceria para sempre, mas que bom que a dica de Duchamp, além de muito boa, foi ouvida”, comemora a art advisor Georgia Lobacheff. Nas semanas que se seguiram, a falta de inspiração de Pollock manteve a enorme tela de 242,9×603,9cm em um lindo e alvo branco
Nasce “Mural”
Sob pressão e com a ameaça de ter seus rendimentos cortados, há quem diga que Pollock pintou “Mural” em uma noite apenas. Fato é que um restauro mostrou que há várias camadas em que Pollock usou mais de vinte cores que demoraram semanas para secar. Seria uma evidência de que tenha sido pintada de uma única vez? E, assim, nasce “Mural, uma obra que fica entre a abstração e a figuração”, conta a art advisor. “É possível identificar rostos, figuras nela, mesmo suas obras sendo reconhecidas como parte de um estilo chamado de expressionismo abstrato. Abstração por ser uma pintura não figurativa propriamente dita, mas com expressão, que é tudo o que Pollack fazia. A grande novidade da obra de Pollock era pintar com o corpo. Essa técnica de ‘dripping’ (gotejamento), inovadora para a época, tem a ver com expressão. Tem a ver com a ação em si de expressão do corpo dele, a ação de pintar com a força do corpo. “Enquanto outros artistas da mesma época estavam inclinados à abstração, Pollock estava focado na expressão dentro da abstração”, explica Geórgia. Vale destacar que, inventada pelo surrealista Max Ernst, a técnica de dripping foi adotada por Pollock que dispunha de grandes telas no chão do ateliê e usava o corpo como instrumento para suas abstrações.
De volta para casa
Partindo de São Paulo, 7.681 mil quilômetros nos separam de “Mural”. Mas, isso é apenas um detalhe quando se calcula as viagens que já fez: Bilbao, Londres, Boston e Sioux City, e quando se pensa em toda sua história e na importância de ter voltado ‘pra casa”, em Nova York. Após sua conclusão, no mesmo ano em que foi solicitada, “Mural” ficou exposta por muitos anos no apartamento de sua patrocinadora. Ao fim da Segunda Guerra mundial, Peggy volta a morar na Europa onde não há espaço para uma tela com as dimensões de “Mural”. Após muitas negociações, decide, em 1951, doar o trabalho para a Escola de Arte e História da Arte da Universidade de Iowa onde permaneceu até 2020. Em seu novo lar em Nova York, no museu Solomon R. Guggenheim, homônimo ao tio de Peggy e fundador do museu de quem ela herdou o fino gosto pelas artes, a obra de Pollock se une a outras do artista no museu como Ocean Greyness (1953), Number 18 (1950), Alchemy (1947).